MÁRIO LÚCIO

Começo a escrever esta primeira reportagem do site a ouvir o CD É a Lama Mess!, de Mário Lúcio e Los Lúcios – Pablo e Escobar. Coisa rara e autografada. Um verdadeiro estupro sonoro, entre composições próprias do grupo e amigos, todos hits do melhor brega musical que Campinas já viveu. Mas quem, em sã consciência da maior embriaguez ou do cigarro do capeta, não foi ao delírio a ouvir, por exemplo, “Feiticeira”, com direitos comprados na época para mil CDs e cantada de forma tão desafinada? Quem não sonhou em vestir terno de gosto duvidoso e malha cacharréu e subir no palco para pagar um mico que virou sucesso? Fenômeno do acaso musical, esta entrevista é sobre aquele que entra neste ano da fé cristã e do ateu no seu trigésimo ciclo de uma carreira interrompida para dor de suas fãs, mesmo que a maioria delas já esteja às portas da menopausa. Uma reportagem para lembrar a Campinas que existia na década de 80, onde a vida musical existia em tal quantidade e qualidade que até Mário Lúcio se tornou, como ele mesmo faz questão de dizer, o “maior e melhor cantor pop-pornô-brega do universo”. No palco do Cantares e Esquinas, Marcelo José do Canto, o cantor das multidões.

Mário Lúcio nos recebeu no seu apartamento no Cambuí, bairro de classe média alta e que foi, na década de 80, ponto de encontro de todos os gêneros musicais possíveis da cidade em dezenas de bares. Bairro boêmio e com centenas de repúblicas de estudantes, essencialmente de moradias, longe do comércio efervescente de hoje. Marcaram época, Contramão, Caicó, Natural, Paulistinha, City Bar (único remanescente e sobrevivente), Candeeiro, Alfredo’s, Itapuã, Água Furtada e o Ilustrada, entre outros. E nesse último é que o garçom Marcelo José do Canto sairia de cena para dar lugar à genialidade, guardada até então a sete chaves, de Mário Lúcio.

“Meu nome é Marcelo José do Canto. Popularmente e internacionalmente conhecido lá no Arquipélago de Ilhas Fausto como Mário Lúcio, maior e melhor cantor pop-pornô-brega do universo e que fazia parte da menor e melhor big banda das Américas, que era Mário Lúcio e Los Lúcios - Pablo e Escobar. Mas o que eu posso dizer é que Mário Lúcio surgiu de uma ‘sacanagem’ que eu quis fazer. Mas acho que ele era uma coisa que já estava dentro de mim, aquela coisa meio gay assim, desde sempre, e eu não sabia. Em 1987 eu era garçom do Bar Ilustrada, que ficava aqui na esquina das ruas Coronel Quirino com Benjamin Constant. Eu era garçom e estava com possibilidade de trabalhar no jornal Diário do Povo (jornal que foi fechado aos 100 anos, em 2012). Isso era dezembro de 87 e eu tinha a certeza de que iria trabalhar no Diário.”

Na verdade, o outro lado de Marcelo do Canto é justamente o próprio até hoje, jornalista envolvido no início com Esportes, depois com Cidade, jornal para deficientes visuais, política, de novo Esportes e muito mais. E quando o garçom deu lugar ao jornalista surgiu junto o mito das milhares de máriolucetes ou lucinetes.

“Como eu iria para o Diário, comecei a preparar alguma coisa para me despedir do bar, mas não sabia o que fazer. De repente, me veio a ideia de cantar, coisa que nunca tinha feito, entre aspas, como personagem ou até eu mesmo. Mas houve um momento, quando eu era garçom do Ilustrada e o grupo Bons Tempos se apresentava lá, que umas meninas, numa mesa me perguntaram o meu nome. Daí eu disse que era Marcelo José do Canto. E como sempre fizeram a minha, uma brincou: ‘E você canta?’ Daí eu respondi: ‘Eu canto. Qual de vocês você quer que eu cante?’ Mas daí, como elas estavam meio embriagadinhas, começaram a gritar ‘garçom, garçom, garçom!’ E o Bons Tempos fazendo lá o trabalho deles. Eu achava chato isso. Estava todo mundo lá trabalhando. Mas como eles do grupo sabiam dessa lama intrínseca que eu já tinha, me chamaram no palco e eu cantei Cajuína, do Caetano Veloso, que é uma música que eu gosto muito.”



O Grupo Bons Tempos foi um marco da cidade. Com Alfeu no cavaquinho e vocal, Caco no vocal solo e percussões, Chiquinho no pandeiro, Elder na timba e vocal e Newton no violão de 7 cordas e vocal, ele se tornou referência quando a coisa era samba, MPB no geral e chorinho. Na verdade, o grupo o chegou a gravar um DVD e um CD sobre a vida e obra de Ary Barroso – Ary, o Brasileiro. Desfeito, deixou um hiato na música de qualidade de Campinas, mas um de seus ex-integrantes – Chico Pandeiro – será tema de uma das reportagens do Cantares e Esquinas.

“Daí, quando pensei em me despedir do bar decidi então fazer um showzinho. Pensei: vou lá, subo no palco e canto. Mas eu cantar sozinho não vai ter graça. Vou ter de fazer uma sacanagem. Mas isso remete a uma outra história. Quando eu estava na faculdade de Jornalismo, que finalizava também em 87, eu tinha feito A Passagem de Cristo, que foi um trote cultural. Formatei como se fosse um teatro, com som, palco, luz, apresentador lendo um texto do Paulo Leminski (https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Leminski) na abertura. Aliás, colegas jornalistas bem posicionados hoje, como Paulo Bardall, Luiz Guilherme Fabrini, Paulo Nicolau e Adriano Rosa participaram desse conluio todo. Durou pouco mais de um minuto tudo. Porque demorou uns trinta segundos de texto e eu demorei mais uns trinta segundos ou um minuto para passar pelo palco. Era A Passagem de Cristo. Logo, passei e pronto, fui embora. Mas rendeu uma grana boa, porque eu cobrei muito caro o ingresso na época. Aí eu pensei: quer saber, na despedida do Ilustrada vou tapear o povo de novo.”

O que talvez Marcelo do Canto não soubesse na época é que a tapeação iria mudar a sua vida. Para quem saiu do Arquipélago de Ilhas Fausto (http://www.site.eliasfausto.sp.gov.br/), metrópole que conta hoje com pouco mais de 15 mil habitantes e no passado bem menos, os dias não seriam mais os mesmos.

“O show do Ilustrada eu acho que foi no dia 18 de dezembro de 87. Eu não lembro direito. Na época eu morava com Pablo e Escobar, também conhecidos como Márcio Denni Pontes, um baterista conceituado nacionalmente, e Ricardo Botter Maio, um tecladista também conceituado, até internacionalmente. Eu morava em república com eles. E pensando essas baboseiras todas, chego em casa e eles estavam ensaiando porque iam fazer um show com um grupo que o Ricardo tinha na época. Daí eu entre e falei: ‘Gente, eu vou fazer um show de despedida no Ilustrada. Vocês topam fazer comigo?’ Mas eles disseram: ‘Pô, mas você nem canta’. Daí eu disse para eles ficarem frios, que ia armar e inventar tudo direitinho. Só queria saber se eles estavam comigo. Eles aceitaram e daí eu matutei, matutei, matutei e decidi fazer um show brega. Não era ainda Mário Lúcio, não sabia nome e nem nada. Me remeteu também essa criação à minha irmã mais velha, Maria Vitória, que escutava coisas bregas como Wanderley Cardoso, Ângelo Máximo, Rádio Tupi. Daí decidi: vou cantar Ângelo Máximo, Carlos Alexandre, Evaldo Braga e Wanderlei Cardoso.”

“De repente começou a pintar tudo na cabeça e iria chamar o meu personagem de Adriano Roberto, que é o nome do Adriano Rosa, fotógrafo e amigo. Mas aí ele falou: ‘Vai por o meu nome como cantor brega?’ Daí teve a Vera Longuini, outra amiga, que estava com uma caderneta de chamada da faculdade que eu peguei e comecei a olhar. Olhei para antes do Marcelo, que era o meu nome, e vi que tinha alguém que se chamava Lúcio, mas não era da minha sala. E depois vi Mário. E ficou Mário Lúcio e Los Lúcios. Depois expliquei tudo para o Denni e o Ricardo. E eles gostaram da ideia. Arranjamos 20 músicas e já tinha tudo – repertório e nome. Só faltava eu aprender a cantar as músicas. Então fiz uma pastinha, copiei as letras e formatei o show.”


Na verdade, essa história do Marcelo do Canto sobre o seu alter ego deve quase ter rolado dessa forma. Acontece que este mito da MPB local sempre se complicou com as letras, como veremos mais tarde. E certamente se tudo tivesse sido tão profissional não teria virado o que virou depois. O certo é que do caos virou a lama, mess...

“Só faltava agora saber como eu ia divulgar o show. Eu e o Denni, o Pablo, então fizemos vários cartazes a mão: ‘Show Mário Lúcio, o rebelde apaixonado’. Espalhamos depois pelo espaço dos bares que tinha no Centro de Convivência: City Bar, Paulistinha, o próprio Ilustrada, Contramão, Natural. No Ilustrada eu coloquei os cartazes e fui divulgando, como garçom, o espetáculo. Chegava de mesa em mesa e falava: ‘Vocês viram vai ter esse show de Mário Lúcio? O cara é bom pra caralho. É de São Paulo. O cara faz um som fenomenal’. Fiquei espalhando a notícia uns oito dias. Ensaiei muito pouco também. Falei para os dois parceiros quais eram as músicas e fizemos uns ensainhos meio sem-vergonhas e vamos que vamos. Mas, também, eram músicas fáceis para quem era músico fodão, como os dois.”

“No dia do show, eu fiquei servindo as mesas, como garçom. Mas quando deu umas onze e meia da noite, subi no segundo andar para trocar de roupa. Tem a foto de nós de roupa, antes do show. Uma roupa meio breguinha. O terno inclusive era do avô de um publicitário aqui de Campinas, o Richard Cruz, que emprestou o terno e eu nunca mais devolvi. Era uma cacharréu que eu peguei de uma de minhas irmãs em Ilhas Fausto e uns colarzinhos. E estava montado o personagem. Era para ser só um sarro de despedida. Mas o incrível é que eu me senti um artista eu falei: ‘Eu foda pra caralho!’ Quando acabou o show eu queria mais. E o povo parecia que tinha gostado pra cacete. E eu pensava: ‘Meu, aqui no Ilustrada tocam os melhores músicos e eu era garçom’. E isso, às vezes me deixava chateado, de ver o povo cantando e tocando e o público naquela conversa sem parar. As pessoas bem que podiam reduzir um pouco o barulho e ouvir mais os caras. Mas isso me ajudou a criar o personagem. Eu falei assim: ‘Comigo cantando aqui no bar ninguém vai conseguir conversar, porque vai ser muito ruim’. E foram esses ingredientes que fecharam o personagem. Quando acabou o show, eu pensei: ‘Nossa, lotaram o bar, teve gente que ficou para fora’. Os amigos não entendendo nada, ninguém entendendo nada de ver aquela performance. Parecia que tínhamos ensaiado muito tempo. Mas que nada, foi um estupro sonoro.”

Campinas e o mundo pareciam querer Mário Lúcio mesmo antes da Arca de Noé. Como frequentador de bar naquela época era um ser circulante por todos os points, a noite virava madrugada e a madrugada virava café da manhã numa república ou em outros bares que viravam 24 horas, a notícia logo se espalhou pela cidade. Afinal, até aquela histórica noite no Ilustrada, ninguém poderia imaginar que algo tão fora dos padrões vocais e artísticos pudesse existir.

“Depois do show deu um prazo de 15 dias e começaram os convites de vários lugares para eu me apresentar. E olha que todos os bares do circuito campineiro tinham música ao vivo. Então eu decidi cobrar um cachê um pouquinho alto para a realidade da noite campineira, porque eu sabia quanto era cobrado na noite e os músicos ganhavam. E o mais incrível: o pessoal começou a pagar. A gente estranhava porque o Denni e o Ricardo faziam shows na noite. O Denni era do Soma, um dos melhores grupos que eu já ouvi em Campinas, junto com A Bandida. O Ricardo fazia shows. A família dele é de músicos, com gente até na Suíça e nos Estados Unidos. Mas aí começou a rolar a grana e cada vez mais nos apresentávamos. Nisso entra 1988 e a moçada que viu o show marioluciano aqui já indicava para uma festa brega na sua cidade. De repente, a gente estava fazendo show fora, dentro das possibilidades, porque eu já trabalhava no Diário, até sábado e domingo. Cheguei a cobrir a Corrida São Silvestre, em São Paulo, à meia-noite. Mas, de repente, a gente pegava essa Rodovia Anhanguera e fazia show para todo o lado. E eu na correria de conciliar a minha vida como jornalista esportivo e o personagem que começou a criar corpo.”



Diante de tão ampla agenda musical e as obrigações do papel impresso, Ludwig van Beethoven (já surdo no momento que assumiu Mário Lúcio como pupilo) viu um discípulo seu se perder às graças de Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, ou simplesmente Johannes Gutenberg da Bíblia e da Imprensa. No futuro, seria sete a um para o jornalista, com Mário Lúcio no banco de reservas...

“A gente foi nesse embalo até 1996. Aí nos empolgamos e fizemos algumas músicas, lançamos um CD, que foi meio lançado porque o baterista foi para Porto Seguro, se encantou por lá e ficou um período maior do que deveria. Daí acabamos abortando lançamento do CD e demos um tempo na banda. Eu também estava cansado. Fazia um show em Ribeirão na sexta e voltava para trabalhar no jornal no sábado. Mas, no mesmo sábado, à noite ia para Franca fazer outra apresentação. Isso se tornou cansativo e perigoso, porque viajava de carro sozinho, já que os músicos muitas vezes iam antes. Eu sabia do risco de, cansado, dar uma cochilada ao volante. Aí nós demos um tempo. Mas só que não houve como ficar parado. Voltou à carga de pedidos de espetáculos, bons cachês, muita gente. E eu cobrava alto para não rolar, mas os caras pagavam. Foi quando começamos a fazer apresentações em espaços maiores e precisamos colocar um baixista e um guitarrista. Praticamente virou uma banda. E eram os melhores músicos de Campinas, de Matsuda a Nenê. Quando um não podia ir tinha outro igual ou melhor. E eles falavam: ‘Marcelo, a gente trabalha pra caramba, faz música séria, e quando a gente vem tocar com você o nosso cachê é o dobro e a gente não faz porra nenhuma’. Ou seja, se tornou uma coisa legal, de divertimento mesmo. E as pessoas achavam que aquilo era ensaiado. Por que era tudo muito ruim, mas tão certinho.”

COM O PÉ NA ESTRADA

“Quando fiz o show no Ilustrada em 87, em 88 eu fiz na PUC Campus 1 uns quinze outros, porque todo mundo queria. Era o pessoal da Arquitetura, da Administração. Virou um inferno. E isso para a gente era muito cômodo. Era legal. Foram os estudantes que nos levaram às suas cidades. Eu lembro de uma passagem em Mococa, na Semana Universitária Mocoquense. Em 92 eu morava na república e tocou o telefone. Do outro lado, um cara falou: ‘Por favor, eu queria falar com o Mário Lúcio’. Eu disse que o Mário Lúcio não estava e não morava lá, mas que o conhecia. E o cara falou que queria contratar ele para a SUM, mas que tinha aparecido um cara que poderia levar o Mário Lúcio para lá. Só que ele tinha achado o cachê de US$ 7 mil muito caro. Aí eu pensei, caralho! E disse que iria entrar em contato com o artista e pedi o telefone do cara, porque podia ser algum amigo morfético passando um trote. Anotei o telefone dele e dois dias depois retornei a ligação. ‘Olha, eu falei com ele e ele disse que topa. Mas ele cobra US$ 3,5 mil’, o que já era uma puta grana. E o cara respondeu, ‘então tudo bem, mas você pede para ele me ligar’. Daí eu dei mais um tempo e liguei de novo. O show foi marcado. Chegamos em Mococa e a programação era Titãs na segunda-feira; na terça, João Bosco; na quarta, Mário Lúcio. E nem contrato assinamos. Eu lembro que nesse dia o nosso tecladista oficial não podia ir. Então eu peguei um tecladista que é o Betinho, que já ganhou até Cannes em som publicitário, e o Miltinho na guitarra. Só que eu tinha um Uno. E a gente não sabia a dimensão da coisa. Era para chegar seis horas da tarde. Peguei o Uno e quando chegamos em Mococa, umas sete e pouco, já estávamos atrasados. Tinha quatro pessoas dentro do Uno, além de guitarra, bateria, roupas, parafernália toda. Quando chegamos, os caras apavorados: ‘Poxa, ainda bem que vocês chegaram. Mas cadê o caminhão de vocês?’. E eu respondo que estava tudo lá no Uno. Foi então que nós vimos que não precisava ter levado bateria. Já tinha lá. Era um puta lugar para três mil pessoas. Foi um show espetacular. Depois acabamos fazendo mais três ou quatro anos seguidos porque o pessoal pedia mesmo.”

O certo é que Mário Lúcio entrou numa fase de grandes espetáculos, com caminhos pela frente e pelos lados. Desse tempo tem uma historinha que vai se saber se é verdade, mas como todo fã do cantor pop-pornô-brega é meio gardenal, vamos aceitar.

“Mas tem coisas que a gente não acredita. Em Mogi das Cruzes, uma vez, fomos fazer uma apresentação e o cara falou: ‘Pensei em contratar um grupo chamado Mamonas Assassinas, mas o pessoal da faculdade daqui disse que tinha de ser Mário Lúcio’. E eu nem sabia direito quem era Mamonas Assassinas. Foi pitoresco. Uma vez, já famosos, esses caras vieram no SBT, aqui em Campinas, onde eu fui chefe de reportagem, e falei para eles dessa história.”



“Em Franca, por exemplo, Mário Lúcio já fez show que quem abriu foi o Paralamas do Sucesso. Fiz um show em Iracemápolis que era National Kid e o internacional Mário Lúcio. Em Apiaí, quase divisa com Paraná, fiz várias apresentações, na boate Weekend. E toda vez que eu ia lá o padre falava na missa: ‘Olhem, hoje tem show de Mário Lúcio aqui. Juízo!’ Em Poços de Caldas fui muitas vezes. Uma vez cheguei lá e a cidade estava cheia de cartazes imensos de Mário Lúcio. Fiquei até com vergonha e fiz questão de tirar foto ao lado de um cartaz. Numa vez fui no Sesc de Piracicaba e, no mesmo dia, o Milton Nascimento ia se apresentar lá. Deram uma notinha no Jornal de Piracicaba da apresentação do Milton e uma puta matéria, com chamada de capa e tudo, do Mário Lúcio. Achei uma puta sacanagem, porque eu não sou isso. Sacanearam com o Milton. Mas minha intenção nunca foi atingir nenhum patamar. Sempre levei tudo amadoristicamente. Talvez se eu tivesse deixado o jornalismo e optado pelo personagem, até teria chegado mais longe. Até hoje encontro muita gente que cruzo na rua e diz: ‘Poxa, eu lembro de ter visto Mário Lúcio no Programa do Jô’. Mas só que eu nunca fui no Programa do Jô.”

Como todo astro, Mário Lúcio também tinha seus rituais. Não chegava a ser camarim com toalhas brancas, alimentação vegana, champanhe francesa ou tratamento vip. A coisa era outra, digamos mais visceral, vinda do âmago do ser.

“Toda a vez que eu ia me apresentar, eu podia estar pronto, do tipo vai começar daqui a cinco minutos, mas se eu não tivesse ido ao banheiro antes eu ficava preocupado. Eu pensava: ‘Eu vou ter de ir ainda, porque que é que eu já botei a roupa?’ Eu passava cada apuro e os músicos ficavam putos comigo. Sentava no trono e os caras ficavam putos, coisa fisiológica mesmo. Um dia fomos fazer um espetáculo num sítio em Sousas. Coisa de três bandas, com Mário Lúcio fechando a coisa. Era num sítio, numa tenda, e não tinha banheiro. Só que deu vontade e tinha uns caras tocando e na área que seria o camarim tinha uma caixa de papelão deles. Não pensei duas vezes e mandei ver. Depois, fechei a caixa de papelão e fiquei pensando na cara que eles iam fazer ao abrirem. Mas não tinha jeito. Era isso ou não tinha espetáculo.”

“Teve outro show que mostra como as coisas de Mário Lúcio iam se resolvendo no palco. Por que depois do Ilustrada nós nunca mais ensaiamos. Só passávamos o som de vez em quando, em algumas apresentações. E eu não sabia nem regular o som. O tecladista é que fazia e ficava puto comigo. Daí fomos fazer um show em Bebedouro, para a nata da cidade. E eles pediram para incluir uma música no repertório. Só que eu nunca tinha ouvido aquela música. Nessa época eu tinha uma pastinha com as letras das músicas em folhas soltas. Aí, antes de começar, nós repassávamos as músicas que íamos tocar. E tudo não passava de uma hora de espetáculo. A gente decidia e passava a sequência para o baterista e o tecladista. Daí eu colocava as letras naquele suporte de partituras e deixava ali. Só que o local que a gente estava tocando no bar não era tão grande de espaço. Nessa eu bati no suporte e caíram todas as letras. E o pior é que todas saíram da sequência. Daí, na quarta música o tecladista deu o pontapé inicial, o baterista acompanhou e eu não imaginava que música era aquela porra. Daí bateu o desespero e não tinha como captar a música. Daí eu falei: ‘Maestro, pare isso aí! Por favor maestro, seis notas, sete notas’. Eu comecei a fazer essa brincadeira e o povo, todo mundo bêbado, achava que era do show mesmo. Mas não era. Eu não sabia que música era aquela e nem a letra. Tive de chegar perto do Ricardo e falar: ‘Pelo amor de Deus, Escobar, você quer me derrubar. Você está tocando a música errada!’ E eu com um ray-ban do Mercadão, vagabundo, que eu não enxergava nada. Daí o Ricardo teve de me falar qual que era aquela música. Depois dessa cagada fiz uma pastinha, com plastiquinho.”

Esse jeito márioluciano de ser ou esquecer, ou não decorar, ou não saber a música, ou não saber cantar, ou não conseguir entrar no tom, o levou, inclusive, ou não, a uma solução que só quem é artista sabe: transformar o pior em algo que de tão ruim vira bom demais. E como coração de mãe não se engana, ele virou lenda.


“Mas mesmo com a pastinha das letras, eles estavam tocando a música e eu não conseguia entrar no tom. Então comecei a brincar, porque o Mário Lúcio recebia muitos telegramas, de personalidades. Um dizia: ‘Mário Lúcio, você é o único cantor que a Ordem dos Músicos permite cantar fora do tom. Isso porque você é amigo de Tom Jobim, Tom & Jerry, Tom Hanks, Tom Zé e tomá no cu todo mundo’. Todo o show eu mandava o povo tomar no cu. Eu uma vez defini Mário Lúcio como um estupro musical, porque ele não é cantor, não é ator, não é artista, não é nada. Só que de repente virou uma coisa. Eu acho que todo mundo um dia quis sê-lo. Na interpretação das músicas, Mário Lúcio se masturbava no palco, fazia gestos. Uma vez eu fiz uma apresentação aqui na Concha Acústica do Taquaral e eu me lembro muito bem que foi o dia em que começou a operação que criou o Sistema Rótula em Campinas. Era o primeiro dia. E nesse dia a minha irmã Mônica trouxe minha mãe para me ver – a saudosa Dona Loriz. Quando eu a vi, pensei: ‘Que judiação uma mãe ver o filho desse jeito’. Mas faz parte. Na hora que terminou tudo, a EPTV foi fazer uma reportagem com o personagem. E lá na concha tem uma espécie de camarim. Só que nessa hora entra a minha mãe, que a minha irmã tinha levado ao camarim. Aí eu pedi um segundo ao pessoal da EPTV lembrando que mãe é que nem Coca-Cola, só tem uma. Aí ela falou: ‘Filho, que legal’, naquela carinha entre um susto. ‘Mas sabe, eu posso fazer duas perguntas pra você? A primeira é que minhas amigas sempre me perguntam porque você colocou Mário Lúcio. Marcelo José é tão bonito. E a outra é por que você passa mão em você todo. Você canta tão bem. Você não precisa fazer isso’.

Mas se mãe sempre acha o filho o mais bonito do planeta, mesmo que esse planeta seja a Transilvânia, o que dirá o pai? Pois no caso do Mário Lúcio, para alegria de Marcelo do Canto, não muda muito. Só que vem de um jeito mais realista...

“Outra vez eu fiz um show em Elias Fausto. Aliás, o único que eu fiz lá. Numa chácara, uma festa brega. E foi engraçado porque eu falei para o meu pai, saudoso Garrote, para ele ir lá. Daí eu entro para fazer o espetáculo e vejo o meu pai num balcãozinho tomando uma cerveja e olhando lá para o palco. Tinha muita gente na frente, mas ele estava num lugar um pouco mais alto. Aí Mário Lúcio fez a performance dele, sempre brilhante, estupenda e maravilhosa, e quando terminou eu saí do palco. Me despedi de todo mundo, olhei, peguei um copo de cerveja, sentei do lado do meu pai e falei: ‘E aí, Garrote, o que você achou do show?’ Ele olho para mim e falou: ‘Fio, ocê é um cara de pau, heim’. Não precisava ter dito mas nada. Eu concordei.”

Antes de colocar Mário Lúcio no mausoléu da fama, Marcelo do Canto fez dele alguém que não ficou só nos palcos. Na verdade, extrapolou as notas desafinadas e acordes perdidos para o mundo do jornalismo. E até lá o sucesso foi retumbante.

“O Mário Lúcio chegou a ter um viés, que era uma página no jornal Dário do Povo todas as segundas-feiras. Se a coluna se chamava Milongas. Escrevia um monte de abobrinha, só merda. E o feedback na época do jornal era muito pouco. Mas quando começou a página de Mário Lúcio, ela imediatamente virou o maior número de cartas que chegava no Diário. Daí eu cheguei à conclusão que o povo quer bosta mesmo. Já cheguei até a entrevistar um cavalo para falar sobre a proibição do jogo do bicho, com o título de ‘Animais se unem para criar sindicato’. Daí, na segunda-feira que saiu a coluna, eu estava ouvindo a CBN ou a Cultura e quem estava apresentando o programa não se tocou. Começou a ler as manchetes do jornal. Aí, com voz de locutor, falou: ‘Animais se unem para criar sindicato’. Na hora que foi começar a ler a notícia é que se tocou que era coisa márioluciana. Mas já era tarde e o sindicato foi notícia.”

QUANDO O FÃ ENCONTRA O ÍDOLO

“Mas a melhor história foi no La Recoleta (bar e café que funcionou na área subterrânea do Centro de Convivência Cultural nos Anos 90). Eu fiz muito shows lá. Estava sentado numa mesa com um monte de gente. E começamos a falar do lugar, dos espetáculos de lá. Daí um cara falou que o melhor show que ele já tinha visto no local tinha sido o do Mário Lúcio. Eu, sentado na mesa, pensei que o cara estava querendo tirar sarro da minha cara. Mas fiquei quieto. Só que ele começou a elogiar muito o Mário Lúcio e eu falei assim: ‘Bicho, esse cara aí é ruim pra caralho. Falar que ele é bom, me poupe’. E ele começou a discutir comigo, ficou bravo. Aí eu dei corda, comecei a meter o pau no Mário Lúcio. E ele: ‘Qual que é a sua, o cara faz o trabalho dele!’ E um amigo meu que estava na mesa também inflamou a discussão. Na hora que eu falei que eu era o Mário Lúcio, o cara não acreditou. Depois, chegou a me mandar uma gravação minha que nem eu tinha.”

Se Mário Lúcio já não existe – mas pode voltar este ano – por certo Marcelo do Canto fica triste por não ter assistido à época o seriado Túnel do Tempo. Se o tivesse visto nas tevês valvuladas de do Arquipélago de Ilhas Fausto, talvez tivesse viajado para o futuro e descoberto a galinha dos ovos de ouro, já que na sua terra natal ovos eram só os do quintal.


“O que eu me arrependo é não ter virado depois stand-up. É que nos Anos 90 não existia stand-up. Uma vez o João Nunes, um jornalista, chegou a escrever um roteiro de apresentação solitária. Foi pensado, mas não feito. Hoje Mário Lúcio é também uma história com começo, sem meio e sem fim. Um amigo meu, metido a cineasta, falou que iria escrever um projeto para o Mário Lúcio. O Marcelo Andriotti, outro jornalista, escreveu o roteiro e o Armando Onofre escreveu o Mário Lúcio, The Filme. Ele inscreveu a ideia para o Prêmio Estímulo, que tinha em Campinas. E acabou que ganhou um valor considerável. Locamos na Casablanca, uma produtora de cinema de São Paulo, com todo o equipamento, uma parafernália. Pintou uma moçada, assistente disso e daquilo. Em seis dias era para ser feito todo filme. E eles me passaram o roteiro para eu estudar um mês antes e marcaram a gravação. E eu não li nada. Quando chegou na hora eu vi que devia ter lido. Era fácil de fazer, mas não sabia. E demos azar que nos dias da filmagem caiu uma baita chuva e atrapalhou tudo. Mas eu lembro que a MTV fez um making of da produção. E quem veio fazer foi a Marina Person, que tinha um programa que falava de cinema. Daí a Marina depois me ligou e disse que ia passar tal dia. Deixei o videocassete lá e pensei que deveria passar uma notinha. De repente, começa a rolar o programa e falar da Sharon Stone, Bill Pullman, Dennis Rodman envolvido com o cinema e depois diz que, no interior de São Paulo, Mário Lúcio é o personagem de um filme. Eu não acreditei que apareci no mesmo programa igual aos astros de Hollywood. Mas eu fiquei tão nervoso que não consegui ligar o botão de gravar. A sorte é que alguém gravou e depois me deu. Só que foi um projeto inacabado que ficou na Casablanca, sem edição. Depois fui lá e tirei. Hoje tenho as películas, só que até agora não vi. Teve muita gente que trabalhou no filme, como Zé Oliveira e Beto Regina. Mas pode ser que eu doe para o Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas ou usar pedaços como resgate nos futuros shows.”

O certo é que Mário Lúcio construiu em torno de si um caminho onde a prioridade não era a sua carreira. Se o fosse, certamente o brega espalhafatoso e mais famoso do Brasil, Falcão, teria um concorrente à altura (ou melhor, bem abaixo porque o cantor cearense tem quase dois metros e Marcelo do Canto é quase um pigmeu).

“Todas as vezes que subi no palco e comecei a cantar eu me preocupava era com o público. O resto que se foda. Sempre foi assim. O tecladista, quando acabava o show, saía do palco, mesmo que eu pedisse para tocar mais uma. Parte era porque ele não gostava do gênero, mas tocava por amizade. Muitas vezes ele saía do palco e ficávamos só eu e o baterista. Isso há 20 anos. Mas como ele tinha um tecladão que fazia tudo, eu apertava um botão e começava a tocar a música. Uma vez eu fiz um show no Centro de Convivência quando o Toninho do PT era prefeito. Era parte do Festival de Humor de Campinas. Indiquei o Língua de Trapo (http://dicionariompb.com.br/lingua-de-trapo), Mágico Bianco, Be e Thoven. Até propus ao Toninho fazer uma chamada do tipo ‘FHC vem aí, mas você não vai chorar e vai até sorrir’. Na época o Fernando Henrique era o presidente. Mas ele não aceitou. Só que a coletiva que ia falar do festival era no dia 11 de setembro, na Estação Cultura, e o prefeito foi assassinado no dia 10. Mas eu lembro que mesmo assim aconteceu o evento e eu fiz o show. Até com backing vocal. Tinha um amigo que era dono de uma loja e peguei três manequins bem gostosas com ele. Acho que Mário Lúcio foi o único cara que se apresentou com três manequins de apoio, conversava com elas e trocava até beijinho. Uma lama.”

“Tenho uma passagem curiosa também com o Jorge Mautner (http://dicionariompb.com.br/jorge-mautner). A PUC montou uma vez um circo no Campus 1 e fez uma semana de espetáculos. E nós, eu e o Mautner, íamos nos apresentar lá em dias separados. Nós nos conhecemos, saímos para tomar cerveja junto. O meu show foi na terça e o dele quarta. O meu dia estava lotado, esparramado de gente. Já no dia dele, não. Depois do show dele nós fomos no Bate-Papo (bar que não fechava e funcionava no Cambuí). Ele irritado por não entender como o Mário Lúcio tinha lotado mais. Lembro que tirei muito sarro. Mas, Jorge Mautner perder para Mário Lúcio, que lama.”

NA SAUDADE DÚBIA DO QUE JÁ FOI

“Hoje, toda a vez que eu penso em Mário Lúcio, sinto falta daquele tempo. Mas também esqueço rapidinho. Acho que psicologicamente foi muito bom. Terapeuticamente falando. Até financeiramente, porque dava uma grana legal. Até hoje, em local de trabalho, reuniões, aniversários, canto música dele. Não faço show, mas sempre que pedem, em reuniões, a única coisa que eu exijo é ter um ray-ban. Se tiver um e alguém me emprestar, eu canto. Senão, não. Para mim sempre foi diversão, desde o início. É claro que teve a questão financeira, de até ajudar outros músicos que se envolveram e ganharam com isso. Mas foi sempre diversão. Nas reuniões, canto sempre Feiticeira (https://www.youtube.com/watch?v=Qc3nEj1gtrM), do Carlos Alexandre, que na época da gravação do CD compramos os direitos autorais por R$ 300,00 para mil cópias. E também Sábado (https://www.youtube.com/watch?v=FeoL5_xp22g), do José Augusto. Feiticeira é porque todo mundo pede e Sábado porque eu acho linda.”

Mas como podemos explicar o sucesso de Mário Lúcio? Talvez valesse uma tese da USP ou da Unicamp. Quiçá em Harvard, se Harvard se interessasse por breguice. Como o próprio reconheceu nesta entrevista, Campinas tinha na época vários pontos para apresentações musicais e a maior parte colocava nos seus palcos artistas de qualidade. Contudo, de “qualidade duvidosa”, Mário Lúcio é quem foi estrela popular e pop star. Certamente, ao proferir a frase de que o Brasil não é sério, o general Charles De Gaulle deve ter assistido o ídolo de Ilhas Fausto.

“Hoje o sucesso de Mário Lúcio seria até mais facilmente entendido porque é só ver o que se toca. Hoje tem muita coisa tocando que se podia cortar a língua de um monte de gente que não faria falta. Mas naquela época dos Anos 80/90, com MPB boa rolando, o surgimento das bandas de rock, era uma coisa de qualidade que virava. Hoje, como o povo ouve qualquer merda, estaria explicado melhor. Mas antes é bem questionável. A qualidade musical de então dos bares de Campinas era grande. Só top. Mas, por outro lado, eu vi muita gente boa sofrer na mão dos pingaiadas da noite, que não lhes davam atenção. Por isso Mário Lúcio ia foder e virar estupro sonoro. E esses caras top tocavam, paravam, ficavam três horas tocando. Fazem isso até agora. Mário Lúcio, não. Decidi que iria fazer só uma hora e acabou. Eu acho que hoje seria mais fácil de entender o sucesso. Acho também que era por ser diferente e pelo que o personagem fazia no palco que foi um sucesso.”

Se pararmos para pensar, porém, no inusitado e naquilo que é divertido, no que rompe as barreiras do normal e libera os sonhos e grilhões, Mário Lúcio foi um torpedo a destruir a métrica e a rítmica. Num momento em que o Brasil mal acabara de sair da ditadura militar, onde os sonhos de jovens ainda esbarravam numa estrada meio sem volta, talvez ele tenha sido o reflexo onde o anormal, monstros e monstrinhas, animais que viviam presos em cada um e soltos na noite, se libertavam junto ao cantor performático e carismático.

“Quando eu era adolescente fui para o Rio uma vez e fui depois, nas excursões que você fazia quando terminava o ginásio. E nós ficamos no Hotel Bragança, na Rua Mem de Sá, no Centro. Atrás do hotel é onde se fazia a cerveja Brahma. Lembro de nós olharmos da janela e vermos aquelas garrafas na linha de produção, perto dos Arcos da Lapa. Na época era só travesti, boate e lameira. Lembro de ter entrado numa boate e ver um cara cantando Roberto Carlos. E ele satirizava o Rei. Não fazia gestos, mas a cara dele já era engraçada. Tipo um Costinha (https://pt.wikipedia.org/wiki/Costinha_(humorista)). Talvez isso tenha sido a coisa mais próxima do Mário Lúcio, que é ruim pra caramba, mas um gesto fez ele virar. Todo mundo queria subir no palco e fazer aquelas besteiras que o Mário Lúcio fez. E não importava o local.”

“Um dia foi fazer um show numa chique em Franca e outra vez no extinto Hospital Psiquiátrico Bierrembach de Castro e no Cândido Ferreira. E era tudo igual. Uma vez no Bierrembach eu cantava as músicas e fazia e os gestos e, de repente, o que foi que aconteceu: um louco de lá arrancou o pau pra fora e mandou ver. Do mesmo jeito, no Cândido, quando terminei a apresentação veio uma senhora interna, apertou a minha mão e me deu um bilhete dizendo que ela tinha se apaixonado por mim. É até sacanagem, mas eu lembro que nesses locais eu dizia que o show estava uma loucura. Eles curtiam. Nós colocávamos músicas de momento também, sucessos de novelas. O brega todo mundo gosta. O povo quer isso.”

O FINAL DE TUDO E A VOLTA

“Em 2003 foi o último show que nós fizemos. Em 2004 íamos fazer um na Estação Cultura, mas no dia tive um problema de falecimento na família e não fiz. E nesse dia foi muita gente ver e até levou faixa e tudo. Mas não teve. Desde esse dia Mário Lúcio está dormindo em berço esplêndido. Já se vão 13 anos. E a ideia agora, em 2017, é fazer uma apresentação. Isso eu vou fazer. Para comemorar os 30 anos de carreira. Minha ideia é convidar todo mundo que tocou com Mário Lúcio e, se empolgar, até fazer fora, em outras cidades. Já tive propostas recentes de Ribeirão Preto e Franca, mesmo tanto tempo afastado dos palcos. É a lama mess... Mário Lúcio se apresentou na Concha Acústica do Taquaral, no Teatro de Arena do Centro de Convivência, no Teatro Castro Mendes, no Teatro do Centro de Convivência, ou seja, nos maiores points culturais da cidade. Logo, em 2017 posso requerer esses espaços para me apresentar novamente. Senão, em 2014 fui convidado para fazer um espetáculo no Teatro Municipal de Paulínia. De repente. Quero fazer um espetáculo no primeiro semestre e outro no segundo. Ou, quem sabe, a partir de março, um a cada mês. De repente, o espetáculo vai se chamar Mário Lúcio, o Rebelde Apaixonado de Volta.”


Os fãs do Fã-clube Independente e Dependente do Mário Lúcio, espalhados por todo o planeta, estarão a torcer para que o Ano do Galo de 2017, regido por Oxum e Oxóssi, talvez ainda em crise, devolva das trevas musicais um ícone de uma Campinas que não volta mais. E quem sabe seremos bem mais felizes a querermos ser aquele cantor desafinado, brega e baixinho que nos palcos vira Frank Sinatra, modelo de Pierre Cardim e do tamanho do Falcão.

PS.: Estamos no Ano da Pandemia de 2021 e Mário Lúcio nunca mais retomou a carreira de forma ininterrupta. Mas, valeu. Mário Lúcio é um ícone da noite campineira, quando ainda havia noite. Ou, senão, um brega a mais no coração das multidões.


PS.: As fotos incluídas nesta reportagem são de minha autoria e do arquivo pessoal do artista.







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