DING DONG
A divisão entre o real e o irreal, o mundo que teima em girar no nosso dia a dia e aquele que está escondido além de nós mesmos. A certeza do prazer contra a realidade que martela regras e dogmas, imposições e cisões, certidões de cartório e invólucros que roubam emoções e descobertas, tantas coisas mais e mil. Nessa dicotomia que marca a rotina de um músico, ele já tem direito a nome de rua na cidade que queira homenagear seus verdadeiros heróis. E certamente estes heróis serão gente não igual àqueles que se vê em placas por serviços prestados saber-se-á a que dono do poder. Serão melhores. Pessoas que apenas sonham com um mundo melhor, um novo tipo de som, tipo uma “música pra pular brasileira”. Seres humanos na essência de quem caça tartaruga no quintal, abre a casa para batidas e batuques, tem como companhia uma cadela que leva o nome de Luna, certamente no mais puro luar da magia da composição. Alguém que se acha nas noites de Campinas a tocar em ritmos que nada mais são do que um pulsar igual ao pulsar cadente do coração. Um tic e outro tac. Ou um ding e um dong. Um cara que venceu travessias delirantes e loucas e fala de uma vida a se relatar e reviver. Para se escrever e eternizar. No palco do Cantares e Esquinas, Ding Dong. Alguém que vive a “Melhor Idade” naquilo que ela tem: o questionar de um tempo que Vinicius José Geribello deu cria e gestou o criador da Batucada DezVinte – um novo conceito de música. Enfim, não apenas um cara. O cara!
“Na história em quadrinhos sempre me encucou que a invasão dos outros planetas chega com uma arma maior que todas que a gente conhece. Mas uma vez eu fiquei pensando numa invasão que a gente perguntasse para os caras qual é o som que toca no planeta deles. Nunca a gente pensou numa invasão que mostrasse uma arte como o ser humano fez. A arte dos outros. Hoje temos 90% do mundo civilizado na mão de 10% de caras completamente loucos. Atualmente, 90% do mundo está numa merda. Com uma visão de céu e inferno completamente louca. Antes eu achava que Beatles era tudo, mas ficou. Hoje eu acho que não é o Paul McCartney que tem de ficar, mas a emoção. É o novo que traz o novo em função de tudo, a não ser a morte. Mas aí tem o blues que toca na morte.”
Encontramos Ding Dong, num fim de manhã na sua casa de há mais de 60 anos, perto do Bosque dos Jequitibás, entre dezenas de instrumentos de percussão, livros, quadros, pedaços de histórias e um café novo, tirado na hora. Hora de começar a escutar um papo dos bons. Coisa de alma boa e lúcida. Na lucidez que falta a tantos de nós aprisionados em rotinas e coisas corriqueiras ou sem noção.
“Eu estudei Educação Física e me formei. Na verdade, quase me formei em economia também. Mas o que eu tenho do lúdico foi de escutar o Santana no lance do Woodstock. A partir daí, fica uma linha divisória, de bater tumbadora. Eu desde sempre gostei de música. Eu tinha um amigo chamado Romeu e ele batucava na mesa. Isso me identificou. Com o passar do tempo tive uma deficiência de atenção, depois um lance de ansiedade. Daí vieram as drogas e o álcool, que foram como que um catalizador para essa ansiedade. Mas larguei tudo. E eu sei lá porque cargas d’água continuei vivo depois de uma vida ralada de álcool e madrugada. Eu acho que o mundo sempre me deu saúde. Só que até hoje tenho essa coisa de falar muito, ir na frente, dar com a cabeça na parede.”
“Mas aí veio a coisa de identificação da linguagem do rock and roll, do Santana. E me deu a sensação de que aquilo que eu ia fazer era bater tambor, não de estudar música. Essa solução estética pra mim foi muito grande para virar uma atitude que eu tive durante muito tempo e que foi completamente íntima, como falam de boemia, vida marginal, drogas. Mas esse era um contexto de não aceitar o dia a dia e ver uma solução. A solução estética foi como eu ver o fio que estava no útero e aquilo que eu podia criar ou fazer. Foi ver a tumbadora e a guitarra em meio a noção de primitivo, do rock e um montão de definições. Aí eu comecei a perseguir essas coisas. E a todos os caminhos o tambor me levou. Como se fosse ele que me levasse a conhecer cada um. Sempre em cima da coisa do ritmo. Isso me deu doutorado e pós-doutorado de ritmo. De tocar com os outros. Tudo foi uma coisa natural, nunca aprimorado no sentido de estudar.”
“Meu pai é que reformava os meus instrumentos. E meu pai era um pouco surdo, tinha uma deficiência no ouvido, mas gostava de música, sempre teve discos. Na família não tinha nenhum músico. Meu avô é que falava de um parente dele na Itália. Mas a falta dessa distância talvez, se tivesse um músico, poderia me atrapalhar. Eu persigo o ritmo, o suingue. Daí fui lendo uma linguagem de contrabaixo. Hoje eu tenho uma definição, quando converso com a molecada, de que o sistema entre a harmonia e a melodia seriam como o ‘x’ e o ‘y’. Você pega uma melodia pequena, distorce ela, estica harmonizando, mas precisa de uma moldura que a cerque, e o ritmo é essa moldura. O primitivo. Descobrir isso me deu uma simplicidade onde fiz uma viagem no tempo. Consegui explicações matemáticas e filosóficas, tudo em cima do ritmo. Na verdade, captar o ritmo foi a primeira manifestação humana. Ficou muito claro pra mim que é como se tivessem duas pessoas conversando há 50 mil anos, antes de tudo. E quando elas estão juntas tem o toque, o gutural. Mas quando você tem de contar para uma terceira pessoa que não está lá, você usa o oráculo, que é o tambor. Ele nasceu para juntar as pessoas, para fazê-las cantar.”
Se cada país e continente têm um tambor e cada ser humano no seu canto de terra já batuca dentro de si desde a nascença, nas batidas ritmadas do coração, era preciso que tantos tambores e tumbadoras fossem no futuro algo mais do que simples instrumentos. Nas mãos de Ding Dong, essa coisa de antepassados e início de tudo virou arte. E arte pela liberdade. Arte para quebrar tabus e matar ídolos perenes. Que o novo seja sempre a busca do novo. Daquilo que chega para questionar e mudar.
“Com o tempo me veio um conceito para criar o disco Batucada DezVinte, que é começar do ritmo e ter a liberdade de tocar todas as facções musicais. A Batucada DezVinte é trabalhar o negócio da palavra no sentido de deixar fluir, uma mistura. Como a Tropicália da Tropicália. A única coisa que identifica ela com o resto é a coisa do ritmo. Uma coisa da liberdade do atual, onde todo mundo pode tocar o que quiser, desde clássico a funk, rock a soul. E essa possibilidade está aí hoje, na internet, acessível a todos. Como a criação da música está desmistificada. O que atrapalha são as mentalidades xiitas que definem que a coisa tem de ser assim ou de um jeito único. A solução para toda a burocracia e violência é justamente essa liberdade que eu tenho certeza de que a molecada vai conseguir. Ficar livre das regras, de que o importante é só ganhar dinheiro. É preciso expor de tudo. Lógico que tem de gostar de Tom Jobim, mas não tem que ser obrigatoriamente que nem ele ou estudar que nem ele para poder ser. Mas hoje ainda ganham o preconceito, o tem de cobrar, o quanto custa isso.”
“Para mim, a música que mais faz falta numa banda hoje é o DJ, porque supostamente ele toca todos os instrumentos e tem todas as músicas catalogadas para servir de referência, de apoio. Você tem o que você quiser. Como no samba, no conceito, o Cartola pode entrar num DJ. É preciso tomar cuidado para não simplesmente se idolatrar e parar de criar. Eu adoro samba, sou fundador de bloco, toco em conjunto de samba hoje, mas como conceito os compositores deviam fazer samba de coisas atuais, de protesto, falando as verdades. Mas a maioria cultua não só o Cartola mas como a linguagem e a metodologia que não atravessam uma fronteira. Seria como perguntar para o Cartola se ele está sendo benéfico ou prejudicial para a história e o contexto. A idolatria às vezes prejudica.”
CHEGAR A TODOS NO TODO
“Eu costumo dizer que eu sou bunda de músico, pois tem o cantor, o artista, e eu sempre fico na cozinha do palco. Já peguei fase que percussionista era menos que os outros, ganhava menos, não era considerado músico, era inferior. Mas hoje você tira duas notas e já é considerado músico. Mas, nos meus 40 anos como músico, descobri que há uma relação direta com as pessoas além da hierarquia de passar o som pelo cantor para depois chegar ao público. O ritmo é uma descoberta, como um som em que você pega um pedaço do universo e fica naquele tempo. A música você faz ficar naquele tempo. Daí passei a criar senso crítico daquilo que gosto ou não gosto. Hoje temos muitas sobras do milênio passado, desde a área cultural à política. Me considero uma pessoa de sorte ou uma aberração por ter um conceito cultural na cabeça, ter um conceito de bondade no sentido de estar junto. E ficamos como classe média – sem segurança, sem saúde, sem a arte, sem porra nenhuma.”
Uma saudade, porém, reside no mundo que Ding Dong vive nas suas viagens musicais. Em mais de 40 anos de vida artística, tendo passado por palcos e espaços mil, ele não consegue ver em Campinas nada que tenha sobrevivido de um tempo onde a cidade fervilhava de música e fervia de esperanças para quem ama a noite. Dos bons tempos dos anos 70 e 80 do século passado, que poderiam ter criado uma Campinas bem mais musical, pouco ou nada ficou.
“Penso hoje no Duda, no Zeza, no Pezão, no grupo de música, no Projeto Seis e Meia, Teatro Barracão, no Jonas do Centro Cultural Vitória. Não conseguimos deixar nada! Não temos nenhum baluarte de nada. Parece que em Campinas tudo foi feito agora para acabar amanhã. A não ser a Casa Tainá, que é uma coisa que nunca teve a ver com prefeitura, que o TC é quem faz, não tem nada. Alguns pontos de cultura que foram mantidos, como núcleos regionais de bairro, onde atua a comunidade. É a resistência real. Seria como se eu abrisse a porta da minha casa para fazer batucada. Viraria. De tanta necessidade de cultura que a cidade tem, viraria. Criar uma identidade com seu público como era no Centro de Convivência no passado, que tinha uma logística, uma atuação cultural fodida. O City Bar ganhou aquela esquina em função da City Banda. Foi a única coisa que ficou. A cultura poderia ter melhorado para todos os lugares, a partir do movimento que os bares criaram à época. Mas preferiram fechar tudo.”
Mas, apesar de tudo, há a esperança ou a teimosia de que dá para se viver de música, mesmo que os parâmetros agora sejam outros. O tempo de romantismo, da boa alma brasileira, parece que já acabou. Há muito deixamos de ser os bons selvagens. Agora, a realidade do cada um por si parece tomar conta das mínimas relações materiais ou afetivas. O salve-se quem puder parece ser a lei mesmo antes do navio começar a adernar. Entretanto, porque não acreditar no tanto que ainda pode vir a brotar? Será que se quisermos dar asas aos sonhos e esperanças não teremos o retorno de um espaço melhor? Afinal, ainda dá para se viver de música ou é com a música que deixa se viver?
“Hoje nós ficamos pasmos de
ver como tudo se dissolveu e não tem sequer nenhum museu no setor,
um bar que aproveitasse o que foi aquela época. Como morreu o Centro
Cultural Vitória. Eu não sei como reverter isso. Mas o otimismo é
vir a acontecer alguma coisa que nós não sabemos. Que tudo possa se
reverter naquilo que realmente interessa para nós. Mas hoje tudo é
burocratizado e levado por interesses. Nós ficamos muito
sofisticados na guerra. Ela evoluiu demais. É que nem o Apocalipse.
Como está fácil. Afinal, cada vez estão colocando mais um xarope
no poder e perto do botão que pode causar uma nova Hiroshima. Mas
isso é o de menos. Por que a Amazônia é 100 vezes mais potente do
que uma bomba atômica, por problemas climáticos, doenças, febre
amarela e o caralho. Mas acho que tem de sair uma solução pacífica,
regional, voltada para nós cidadãos. O otimismo é justamente isso.
Alguma coisa te leva sem ser o engajar a uma palavra de Deus, o
sucesso, o dinheiro – que são as coisas que movem a parte
dominante do mundo, os 10% loucos de pastores, médicos, médiuns,
políticos, reis, doutores. Por que o que dá mais medo hoje é
doutor. Mas chegamos num ponto que o negócio é acreditar. Pois o
maior perigo do fascismo é que as pessoas vão se tornando fascistas
se não prestarmos atenção.”
“Viver de música dá, mas depende do cara. Tem cara que gosta mais de grana e busca um segundo emprego. Eu acho que, no meu caso, gostei mais de álcool e droga um tempo, numa fase que passou. Eu sou um cara tido como marginal, como uns falam, mas sou super tradicional. Moro na mesma casa há 64 anos. Nunca me deu um comichão. A música me fez aproximar das coisas. E eu sempre acreditei que era mais importante a música e o tocar do que ter plano de saúde. Por que se você tem plano de saúde você vai usar e descobrir algo. Se você não tem, nem sabe de doença. Se a música frustra? Algumas pessoas falam que o músico pode ficar magoado se a música dele não virou. Mas aí fora você tem muito mais motivos para isso e frustração. Que dá para ter um outro emprego além da música, dá. Música você pode fazer em 15 minutos e no resto do tempo ser professor, lavar a casa, ganhar um dinheiro em jornal, ter um site.”
“A
coisa idolatrou muito, como jogar futebol. A gente tinha o Pelé como
ídolo, mas nunca pensamos na grana do Pelé. A gente queria era
jogar como ele. E isso fez com que existisse um monte de pelada e
jogador de pé descalço. Mas hoje em dia o moleque pensa é na grana
do futebol. Não quer só jogar bola que nem o Neymar. Quer ganhar o
troco do Neymar. Eu sempre quis que na minha vida, depois do ritmo,
viesse o humor. Por que eu sou meio ranzinza e o humor é
imprescindível na nossa vida. Como a gente ter que aprender a rir de
tantas mortes para não ser contagiado. Pearl Harbor ou humor. Como
um conselho que o Zeza Amaral me deu no passado quando fui falar com
ele que estava pensando em viver de música. Achei que ele fosse
falar de grana e tudo o mais. Mas ele apoiou a ideia e só me disse:
‘Vai doer a mão pra caralho!’ E o Zeza, na época, tocava
tumbadora no Bar Armorial. Zeza é um puta exemplo que uniu música a
outro trabalho como escritor e jornalista.”
“O que eu
mais construí nos últimos 12 anos foi a Batucada DezVinte. Ela
virou um conceito. Depois que parei de beber e me veio a lucidez,
entre aspas, eu me perguntei o que ia fazer com a minha cabeça. Hoje
eu junto músicos, escolho um repertório e pergunto o que o músico
quer tocar. Tenho a liberdade de mexer com o conceito. Como colocar
guitarra no samba. O que me prende às notas? Nada! É mexer no
conceito. Antes eu tinha a liberdade de criar, de fazer uma bossa
nova, um rock and roll, um funk. Agora eu posso fazer algo que não
tem nada a ver com isso. E eu não tenho de ficar com medo ou preso
ao passado. Eu posso saber o que aconteceu na música e foi bom,
curtir e deixar tudo como um quadro da parede. Por que se eu deixar
na minha cabeça pra sempre, é nocivo. Por que me tira a essência
da arte, que é criar, o novo. Para mim, hoje, inclusive, fica
difícil falar dos meus ídolos, porque eles não vão mais me
emocionar ou não me emocionarão igual da forma que foi quando eu os
escutei da primeira vez.”
“Essa coisa de viver de música é como curtir. Essa coisa de correr atrás de grana, estar em emprego errado é motivo de uma puta desgraça. Tem muitos ditados. Um é de que a música é ciumenta. Viver do que você gosta, sempre foi considerado maluco quem fez isso. Por isso que droga era bom: era condensar o sentimento num lance. Para mim, a solução do mundo está aí: as pessoas fazerem mais daquilo que elas gostam. É só isso que se tem. As outras coisas são invenções desses 10% que piraram, que precisam ter 400 castelos. Mas o que vai vingar mesmo é o otimismo das coisas. As explicações do mundo todas são matemáticas. Nós nos achamos evoluídos e fizemos um raciocínio que dá igual a alguma coisa ou prevê alguma coisa. Chegamos a um ponto que temos dez pessoas no planeta que se ligam no telefone, resolvem entre si por todos e tiram os 10% deles para comprar carros e manter a burocracia. Mas a alma da matemática é a música, que faz todos esses conceitos matemáticos de uma maneira muito mais rápida. Das coisas baterem e você ter uma projeção de satisfação. E a alma da música é o ritmo. Então eu sinto que esse bit, a partir do momento que você agora fala no Japão de forma instantânea, fez com que a gente colocasse o bit no ritmo do planeta. O que demorava 24 horas para chegar, batia e dava um eco, hoje não precisa mais. É no mesmo momento ou em dez segundos. O passado e o futuro ficaram muito perto do presente. E o que mais me aproxima do otimismo é que tudo ainda continua tendo uma coisa artística, que é você criar pensando no que está em volta. Para mim, os maiores artistas hoje são os imigrantes. Esses caras vão mostrar que não tem país. Tem uma terra só.”
ENTRE PELÉ E NEYMAR, A DIFERENÇA
Afinal, o
que se deixa desse mundo musical? Só histórias ou um universo de
canções, poesia, ritmos e tons? Todo o artista de notas e acordes,
mínimas e solfejos já é em si mesmo um ser diferente. Cantor das
tristezas e alegrias do mundo, menestrel dos tempos longínquos e
porta-voz das novidades que nem a tecnologia antecipou, porque elas
vêm da alma – e essas nem um computador de última geração ainda
captou. Entre um cigarro e outro, frases rápidas e ideias mil, Ding
Dong mostra que muito ainda está para se trazer ao mundo, fazer e
criar. Tudo em nome de algo maior: um ritmo universal e livre que
unirá umbilicalmente aqueles que ainda souberem amar e sonhar.
Romper vínculos, romper
com o antigo, com tudo que já foi feito. Buscar algo inusitado,
ainda silencioso no ventre da Terra, pronto para mexer com o ritmo e
as pessoas. Sair à caça de um acorde do Santana, reviver mil e uma
vezes a Woodstock e achar que se lá estava a essência, fora de lá
estará a descoberta da pólvora que faz mais do que simplesmente
explodir. Fazer de cada dia novo uma novidade além das manchetes dos
jornais e das conversas de café. Se der certo, deu. Senão, valeu. O
importante, nesse instante, é deixar de acreditar no que deu certo
para tão poucos e crer que o mundo gostaria de ser melhor para
muitos mais. À essência de tudo, Ding Dong.
"Daqui
a pouquinho eu acho que nós estaremos tocando a arte que serve para
nós em tempo real. Por que a arte tem de ser livre, não pode ser
aprisionada, senão vira a música gospel. É legal, é legal, mas
dentro da igreja. Só pelo fato de só poder cantar em nome de Deus
não dá para dizer que é arte. Você limita. A arte não foi feita
para você aplaudir, foi feita para você pensar. E hoje o pensar é
muito próximo da atitude. O que nós mais precisamos no momento
atual é mais arte.”
“A verdade hoje é que você pode
mexer no conteúdo. E daí vai sair o que tiver de sair. Deixar sair
da minha cabeça o que pode ser um novo som, porque a minha cabeça
hoje está presa. É o cara pegar o timbre elétrico de um
Stradivarius e transformar em coisa nova. Criar um conceito. Por isso
eu gostaria que existisse um lugar que pode ser a casa onde eu já
estou e nele ficasse entrando e saindo gente 24 horas. Criando,
tocando, conversando e fazendo. E todas as coisas fossem se
interagindo no momento que fosse. Por isso, nesse momento de criar e
montar uma banda, eu criei a ‘Música Pra Pular Brasileira’.
Seria como a música de protesto alegre. Abrindo os braços e vendo a
distância que se tem para fazer um Carnaval. Onde você pula de
raiva, mas pula. Onde haja mistura. Que a essência política do rap
entrasse no samba para se cantar como rap e pipocasse. Que essa
harmonia do samba se deixasse entrar no rap, que passaria a ter um
bit que não fosse só gringo, que começasse a ter bits de cavaco,
mais de acordo com a bunda da mulata, do samba. Que o nosso break se
assumisse. É importante se deixar invadir, abrir o espaço e começar
a vir. Acabar com o tabu que mantém a história, com o conceito que
você mantém das coisas. É preciso se perguntar porque você seguiu
um conceito a vida inteira sem romper. É você deixar seus ídolos
em destaque numa sala que seria um lugar de destaques, mas deixar o
coração pronto para uma coisa maior, sua. Ter o tesão de buscar e
pesquisar, ir atrás. Afinal, o que mais ameaça o Estado é o
tesão.”
A todos nós, um futuro livre, com muita música pra pular e brasileira. A todos, Ding Dong na cabeça e muito axé!
PS.: As fotos incluídas nesta reportagem são de minha autoria e do arquivo pessoal do artista.
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